Roger era um mendigo malabarista. Num domingo, após arrancar impressionados sorrisos de rostos carrancudos, conseguiu juntar dinheiro para comer e pagar uma deliciosa macarronada. A macarronada de domingo era a lembrança favorita da sua infância, quando sua saudosa avó conseguia às duras penas disfarçar a miséria que teimava em assediá-los. Alegremente, o mendigo malabarista se dirigiu ao restaurante – lá, o prato de macarrão custava caro, mas o sacrifício valeria a pena; seria bom sentir o paladar levando-o àquela época tão gostosa. No entanto, um sujeito que tomava conta da entrada não foi com a cara dele. Se o mendigo quisesse, ele lhe entregaria um prato de sobras, que deveria ser comido bem longe dali.
O dia estava perfeito. Era um agradável domingo de inverno, iluminado pelo sol distante, mas ao mesmo tempo refrescado pela brisa suave. O restaurante estava com quase todos os seus lugares já reservados. Muitas famílias iriam comemorar a delícia de existir ali, naquele lugar aconchegante. Nada poderia dar errado. O salão estava limpo; a pintura das paredes, impecável; um sorriso verdadeiro habitava o rosto de cada garçom. Até que uma cena inusitada se construiu: um mendigo, um maltrapilho estava se aproximando. Ah, não! Não seria possível! Ele vai assustar os clientes! Sem contar que provavelmente deve estar cheirando mal! Antes mesmo de entender o que o mendigo tinha a dizer, Tobias, o gerente, se antecipou sabiamente e ofereceu-lhe uma marmita, de graça!, para que ele, o mendigo, pudesse matar sua fome longe dali, sem incomodar ninguém. O mendigo, um sujeito orgulhoso e grosseiro, sequer respondeu, apenas saiu de cena murmurando algum palavrão.
Ilustrações de Ye Da Som Park.
***
Conheça a série Metonímicas, clicando aqui.
3 Comentários
Pingback: Metonímicas: O domingo em dois flashes | Mutuca
Lindas ilustrações – que não apenas decoram o texto, mas o transformam em algo a mais.
Dessas pequenas incompreensões cotidianas – que, muitas vezes, são muito mais que incompreensões. Foi um dos que mais gostei na série até agora.
Eu acho esse exercício, mudança do ponto de vista, muito importante para o nosso amadurecimento. Ele faz muita diferença na hora de escrevermos dissertações, por exemplo.