Vitor Ramil é um artista sofisticado. Capaz de mesclar som e sentido de maneira a quase não acreditarmos no que ouvimos, capaz de criar imagens fortes, dando massa a abstrações, como neste trecho de “A ilusão da casa”
As imagens descem como folhas
no chão da sala.
Folhas que o luar acende,
folhas que o vento espalha.
em que as memórias solidificam-se na forma de folhas cadentes. Ainda que não saibamos se essa folhas são de árvore ou de caderno, em todo caso elas remetem a algo que está fora de seu “habitat” – não são assim as memórias? O aspecto pictorial também é muito bonito: as folhas iluminadas pelo luar ganham um tom prata, que lhe acentua o contraste; o vento as espalha, distribuindo caleidoscopicamente suas cores pelo quarto.
Do novo álbum, Delibab, a música que primeiro grudou em meus ouvidos foi “Mango”, uma bela milonga feita a partir do poema de João da Cunha Vargas. Ouvi-la é ser transportado aos pampas gaúchos que existem na minha memória de livros ou filmes como Um certo capitão Rodrigo, excerto de O tempo e o vento, de Érico Veríssimo. Para enteder a música, é preciso ter uma imagem nítida do gaúcho do continente.
Mas mesmo assim não é nada fácil. Eu penei para entender o vocabulário. Confira você mesmo:
http://letras.terra.com.br/vitor-ramil/1248413/
P.S.: hoje tem show do Vitor Ramil no Sesc Pompeia às 21h. Nem adianta ligar para mim neste horário.